Desabafos

terça-feira, abril 18, 2006

Cotidiano

Sabe aquela música "cotidiano"? Pois é, a música dela. Com a ausência do carinha lá para cuidar.

Que seja.

Todo dia ela acorda, levanta sem fome e disposição idem. Vai ao banheiro, ajeita os cabelos (leia-se:rabo-de-cavalo), lava o rosto, faz xixi.

Tira o pijama ou qualquer coisa do tipo, toma banho - na maioria das vezes - escolhe a roupa pra mais um dia de labuta e vai, por assim dizer, interagir com aquelas pessoas. Justamente aquelas que, Deus sabe o motivo, ela não suporta mais; ou melhor, de todas que ela não suporta, são as que ela suporta menos.

Deve ser a porra da convivência. Não é ela que sempre estraga tudo na sua vida?Não foi assim que terminou aquele namoro que "era muito bom" e de repente "não estava mais rolando"?

Engraçado, isso. Ela, que todo mundo diz ser bonita, inteligente, de um sorriso marcante e único, com seus cachos avermelhados, inteligente, simpática e educada.

Logo ela.

Mas tinha que ser assim, não é?Se não, não teria graça, essa tal de vida.

Então.

TEM QUE comer alguma coisa, pra poder tomar um daqueles vários remédios que ela anda tomando agora. E come, mesmo sem fome. Porque ela nunca tem fome assim que acorda. Mas é o jeito, se não, é capaz de o remédio terminar de corroer seu estômago.

Pega o carro, sai. Vai vagando e pensando como é privilegiada por ter um carro, faça chuva ou sol, ela está sempre protegida destas inconveniências que a vida e a rua nos trazem.

Bleh. BA-LE-LA.

Na verdade, não se importa com nada disso, porque não importa o quão privilegiada seja, sua vidinha fútil e seu egocentrismo é tamanho, que tudo o que ela quer é passar o dia deitada, em forma de caracol, conchinha, que seja, na sua cama. Daquele jeitinho que você sabe muito bem e que ela é capaz de passar horas e horas, dormindo e acordando, mais zumbi que gente.

E por tudo faz show, dá escândalo. Uma verdadeira vergonha, uma verdadeira decepção para toda a família, que até hoje só fez tudo por ela.

E ela não sabe para onde ir nem o que fazer. Só sabe que se jogar tudo para o ar, o alívio inicial vai ser monstruoso, mas sabe também que vai acontecer o mesmo que aconteceu com você:ficar trancada no quarto sozinha, dias e noites, sem contato com o resto do mundo e sem dar a mínima pra isso. E seria ruim?

Na verdade, acha que não. Mas tem medo. Porque você tinha a ela. E ela, nem sei dizer de onde, tirou toda a força possível e imaginável para te sustentar, te dar força e te puxar. E você não está aqui agora. Nem você, nem ninguém. Mesmo que você saiba de tudo, com detalhes. Mesmo que a ampare, ainda que "dando carão". Se ela não liga, você menos ainda. Se ela não aparece, fica por isso mesmo.

Vai chegar uma hora, e está chegando, ela bem sabe, que não terá mais forças. Nem pra isso nem pra qualquer outra coisa.

E que isso de fugir e viajar e sair por aí sem critérios e fazer e acontecer e tocar o terror e semear a discórdia não é ela, não mesmo. E que já passa.

E ela vai apenas chorar sozinha de novo.Porque todo dia ela faz tudo sempre igual.

Todo dia...

Todo di...

Todo d...

Todo...

Tod...

To...

T...