Desabafos

segunda-feira, junho 06, 2005

Quatro Historinhas da Alegria


Alegria, alegria.

Alegria, alegria. Foi o que o DJ gritou, bem na hora que ele se aproximou para dançar comigo. Sim, ele era encrenca, das boas. Das boas? Alegria, alegria. Mais um copo de champanhe pra mim, mais outro de whisky pra ele. Alegria, alegria. Das boas deve ser uma com esse homem. Encrenca. Alegria, alegria. Eu estava assim, ele também. Que se dane o resto. O DJ, que comandava a festa, tinha mandado. Eu sabia o que estava fazendo, ele também: estávamos fazendo uma coisa errada. Alegria, alegria. Que tontura boa, vou me agarrar nele. Mas é só pra não cair, que desculpa boa. Boa? Eu estava me sentindo assim. Alegria, alegria.

Alegria, alegria?

Várias primeiras vezes para mim. A primeira vez que liguei para reservar um restaurante. A primeira vez que fui a um restaurante japonês. A primeira vez com pauzinhos (aqueles) e peixes morbidos num molhinho doce. Gostei dos enroladinhos de arroz. Gostei do saquê. Gostei da luz, dos olhos dele. Gostei que estava me encantando, gostei de não poder me encantar e mesmo assim estar me encantando. Alegria, alegria. Eu não pensava em mais nada. Qual foi a última vez que alguém pediu minha mão antes de simplesmente enfiar a própria dentro da minha blusa? Fazia tanto tempo que aquele beijo me pareceu o primeiro também, depois de muito tempo. Meu Deus, eu não podia gostar dele. Alegria, alegria?

Nada de alegria, alegria.

Alegria, alegria. Foi o que ele me pediu, quase me chamando a atenção, dá penúltima vez que foi embora com pressa.
Apesar de todo esforço, meu poder era uma ilusão. Apesar do desprendimento, eu me enganava o tempo todo. Apesar de toda aquela loucura, eu precisava da porra do romance e da porra do tempo calado para sentir prazer.
Daí vinha a sensação de que sem amor eu era apenas usada. Porque sem poder nenhum depois do horário da recomposição, sem tempo de sobra para relaxar o cérebro maluco e sem sonhos para o futuro, eu não ia muito além do tesão superficial. Em respeito a quem tá com preguiça de entender o que eu estou querendo dizer, vamos direto ao assunto: mesmo ele sendo lindo, gostoso, carinhoso, eu não gozava. Nada de alegria, alegria. Ele fecha a porta e volta para sua vida real. Para os dois, porque ele não era egoísta: tristeza, tristeza.

Alegria, alegria

Alegria, alegria. Eu me implorava. E dá para sentir isso o tempo todo? Eu me cobrava tanto ser feliz que às vezes perdia a noção de que já era. Fugir da felicidade ou fugir com ela?
Num ímpeto de tesão, ou talvez após um trabalho de consciência confusa que, por preguiça, acabava se decidindo impulsivamente, respondi ao e-mail dele: sim, senhor. Vamos para onde o senhor quiser, a hora que desejar e na posição que preferir.
Nem todas as histórias precisam ter virgens pálidas chorando às margens de um mar de espumas. Nem tudo precisa ser romance tuberculoso. Sim, eu tossi. Mas foi porque engasguei com outra espuma. Espuma de banheira, com teto solar. Ele, batatas fritas e queijo quente. Pratos prediletos. Alegria, alegria, muita alegria. Dedos enrugados, água no ouvido, mão no coração. Numa mistura de nojo da água com prazer da água. Numa mistura de romance com sacanagem. Numa mistura de piadas e breves assuntos sérios. Sim, estou fazendo poesia, mas não é para rimar e nem chorar. Gozar? Nem vou dizer quantas vezes. Alegria, alegria.


.:Mais um da Tatiane Bernardi,porque me identifiquei comalguns textos e porque hoje, apesarde tudo e de todos eu tô alegria,alegria! :.

1 Comments:

  • At junho 07, 2005 12:58 AM, Blogger mariella fassanaro. ou mari. ou ella. said…

    hum, mas cadê ela, afinal?!
    a alegria, alegria?!

    ah, vai saber...

    e quanto à pergunta, é crise. pessoal, profissional, familiar.
    tudo misturado, tudo dolorido.
    tô levando é surra. nam.

    [taí, esse é o tipo do comment que devia ser apagado. não sei o que era expor mais: responder aqui ou no orkut, hahaha!]

     

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