Desabafos

quinta-feira, maio 25, 2006

Constatações

Constatação óbvia: não adianta.


Eu fui para lá e para cá, aqui e ali e de nada adiantou. Virava e revirava, conversava, fazia amigos, bebia, dançava e quando eu começava a descontrair, lá estava você.


Você, com aquele seu jeito de sempre, entre homem e menino, mais pra menino que homem e que mesmo assim eu não resisto.


Você apareceu numa boate qualquer, enquanto eu beijava um cara qualquer e o chão caiu. Pedi licença e não mais voltei;


Você apareceu no shopping, eu com o prato do almoço na mão, quase o deixo cair de susto;


Você apareceu na praia. É, até na praia você apareceu e eu me engasguei com a água de coco;


Você apareceu naquela festa maravilhosa, quando eu estava linda e deslumbrante e muito gostosa – sabe quando você se sente realmente gostosa? – e paquerando com todo mundo. Você apareceu em forma de música e eu, fraca, apenas corri para o banheiro;


Você apareceu mesmo quando eu te tirei da minha vida e estava sorrindo um pouco. O mundo desmoronou e eu não lembro de já ter sentido antes tanta raiva de você;


Você apareceu quando eu deixei de te procurar e doeu mesmo assim, mesmo tendo sido decisão minha;


Você apareceu num dia especial – ao menos era pra ser – e você sabia disso. E me magoou profundamente o modo como você apareceu;


Você apareceu num museu. Crê nisso?Você, num museu?Nem eu acredito, mas apareceu;


Você apareceu enquanto eu conversava com piu-piu, um vendedor muito gente boa que me agüentou por umas duas horas falando de você;


Você apareceu enquanto eu olhava o mar e lembrava daquele dia maravilhoso, quando eu te seqüestrei;


Você apareceu ontem mesmo, enquanto eu procurava um negócio no supermercado às pressas, mas apareceu porque eu só ia lá com você e lá passávamos horas e horas e lá passamos horas e horas há pouquíssimo tempo;


Você apareceu na vitrine de uma loja, quando eu vi uma camisa que eu teria comprado, se não tivesse alguém ao meu lado para me impedir de fazer uma besteira dessas;


Você apareceu hoje de manhã, ao olhar uma outra camisa, dessa vez de malha, com aquelas frases interessantes/irônicas/inteligentes que eu sei que você iria usar e falar todo orgulhoso que eu que te dei;


Você apareceu numa letra de música que você jamais escutaria, mas que é simplesmente a gente;


Você apareceu quando tocou aquela maldita música do Cartola no último domingo, que você fez questão de frisar que era pra mim;


Você apareceu quando eu fui procurar um nome na agenda do celular;


Você apareceu enquanto eu fumei meu primeiro e último cigarro. A única coisa em que eu pensava era ficar lombrada o suficiente para te esquecer. Descobri que não gosto do gosto de cigarro, que não sei fumar, que arde a garganta, que no dia seguinte eu ainda sentia o gosto na minha boca e que não teve lombra nenhuma, nenhumazinha, que me fizesse esquecer você por um instante sequer;


Você apareceu enquanto eu mandei uma mensagem pra pessoa errada, transmitindo insinuações erradas, que na verdade eu queria que chegassem até você;


Você apareceu quando eu conheci um cara maravilhoso, mas que tinha seu nome;


Você apareceu no centro da cidade da minha cidade, que, puta-que-o-pariu, tem uma empresa de ônibus com o sobrenome do teu pai;


Você apareceu por toda a minha cidade, porque eu sempre quis mais que tudo levar você lá, te mostrar onde eu cresci, onde morei, onde estudei, os amigos que fiz, as rodas de ciranda que dancei, onde fiz ballet, onde me apresentei, onde sentava e ficava vendo meus amigos jogarem bola toda sexta à noite, o parque que eu ia todo domingo soprar bolinhas de sabão, as praias belíssimas que minha terrinha também tem;


Você apareceu até naquela outra cidade, porque eu queria muito ter feito uma viagem daquelas com você, conhecendo, desbravando, nos aventurando e nos passando como só a gente sabe fazer, com a vantagem de estarmos em um lugar estranho – poderíamos fazer tudo isso, muito mais e pior, que ninguém nem ligaria;


Você apareceu e aparece nos meus sonhos. Às vezes bons, às vezes ruins. Às vezes estamos juntos e tudo fica bem de novo. Eu me sinto calma e protegida como só você sabe me deixar.


Você aparece sempre que eu falo a palavra amigo: remete-me diretamente a você, apesar de tudo e das circunstâncias, que são as piores possíveis;


Você aparece quase o tempo todo, porque eu penso constantemente em você e porque tudo me faz lembrar você e nós dois e de como tudo era bom.


Constatação óbvia: não adianta. Não mesmo.

5 Comments:

  • At maio 26, 2006 1:53 PM, Blogger mariella fassanaro. ou mari. ou ella. said…

    um dos posts mais bonitos daqui.
    mas, como tu mesma disseste, não adianta.

    uma hora, muito em breve, ele não aparece mais. e tu vais ficar mais leve, prometo.

     
  • At maio 29, 2006 1:46 AM, Blogger Ju said…

    faço das paravras acima, também as minhas.

    lembrei de orides fontela:
    "primavera.
    Da não-espera
    acontecem as
    flores."

    sigamos...pra frente sempre que é a melhor direção.

    beijos :*:*

     
  • At maio 29, 2006 3:07 PM, Anonymous Anônimo said…

    Eh... parece que alguem anda se superando...

     
  • At maio 29, 2006 4:42 PM, Blogger beto said…

    C.B. (eu nem sei teu nome né?)

    Engraçado como estou me sentindo o oposto de você, não sinto nada em canto nenhum, nada me lembra ninguém, as desilusões passaram, assim como as ilusões... e sabe o que? É chato pra caralho não acreditar no amor!!!

    To torcendo pra arrumar um amor novo, mas só daqui um tempo, porque senão o coração não aguenta passar todas essas coisas que vc escreveu nesse lindo texto.

    beijo.

     
  • At julho 22, 2006 2:14 PM, Anonymous Anônimo said…

    I say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
    »

     

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