Desabafos

segunda-feira, junho 12, 2006

Dia dos Namorados

No dia dos Namorados, os namorados se lembrarão, forçosamente, de que são namorados. De que, de certa forma, pertencem a alguém e estão de compromisso firmado com uma pessoa. Porém, essa lembrança, que costuma ser muito doce em vários momentos – naqueles dias, por exemplo, em que você chega em casa e sente uma flor brotar no seu coração, só porque você ama o seu namorado – torna-se uma incomoda obrigação.

Você vai pensar em comprar uma jóia cara. Talvez, uma roupa bonita e cara. Talvez, um relógio. Caro. Um buquê de rosas maravilhosas! Caras, pois bonitas demais para serem vendidas por um preço baixo. Você vai vagar pelas passarelas iluminadas de algum shopping, porque você precisa comprar um presente para o seu namorado, mesmo que seja barato. Esse não é o ponto. O problema é que você não vai se lembrar do seu namorado como um marinheiro tetraplégico se lembra do mar.

O Dia dos Namorados, grafado com letras maiúsculas, é como uma flecha que atinge diretamente o Inconsciente. Juntamente com outras datas não menos odiosas (Dia dos Pais, das Mães, das Crianças...), formam uma quadrilha perturbadora do verdadeiro sentido de amar alguém.

Tenho comigo que o verdadeiro Paraíso Perdido se encontra no nosso Inconsciente. Lá é que moram as delícias da vida. Se existe um lugar onde se pode encontrar Deus, esse lugar é o Inconsciente. As religiões, é claro, aperceberam-se disso há muito tempo e trataram de cercá-lo com todos os pecados possíveis e imagináveis.

Enquanto escrevo esse texto, vem-me a mente os desastrosos Dias dos – argh! – Namorados que passei com as minhas – ufa! – ex-namoradas. Minha cara de Kevin Spacey em Beleza Americana, porque meus amigos enchiam a cara até de madrugada em algum bar da cidade, enquanto eu me juntava a uma tropa de outros – urgh! - namorados, em algum – irc! - restaurante da cidade... Cotovelo na mesa, segurando o queixo, eu pensava coisas que meu Inconsciente me fez a gentileza de bloquear, mas que não iam muito além do que eu escrevo agora.

Portanto, nesse Dia dos Namorados, proponho um boicote geral! Os namorados devem juntar-se aos camaradas e beber até de manha, até as nove da manhã – não! Até às onze da manhã, quando já é perto da hora do almoço. As namoradas, que não vão ligar para os namorados no meio da madrugada, devem se reunir na casa de alguma amiga e encher a cara até não poderem mais, até de manha, as que bebem, claro, e as que não bebem, não sei, não entendo muito de mulher.

Assim, quando a noite esfriar, qual uma lâmina de ferro recém-saida da forja; alguma hora da madrugada, com mais intensidade do que em qualquer outro dia, ambos vão colocar os cotovelos sobre a mesa, segurar o queixo como eu fazia, dar um suspiro bem profundo e amar, desesperadamente, os namorados que possuem no dia dos namorados.

[texto gentilmente cedido por Artur Malheiros]

2 Comments:

  • At junho 12, 2006 8:29 PM, Blogger A.L. said…

    Bem que tu avisaste que o texto era ótimo; adorei! =)

    Beijo

    P.S.: "Namorado só tem um dia; solteiro tem todos os outros! Uhuuuuuu!" Hahahahahaha!

     
  • At junho 14, 2006 10:48 AM, Blogger beto said…

    Assino embaixo!!!

    Boicote geral à obrigatoriedade de se comemorar.

    beijos.

     

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